NAYOLA, o livro digital de arte do filme partilha com o leitor uma viagem de nove anos através do processo criativo de desenvolvimento e de produção desta longa-metragem de animação.

O livro digital está organizado em doze capítulos que remetem inicialmente o leitor para o processo de adaptação do argumento, a partir de duas obras literárias escritas por dois consagrados escritores africanos. Primeiro, um conto, escrito por José Eduardo Agualusa, escritor angolano, depois uma peça de teatro, escrita por José Eduardo Agualusa e por Mia Couto, escritor moçambicano. Ao aceder às hiperligações do livro digital, o leitor pode ler primeiro o conto, depois a peça de teatro e finalmente o argumento. Analisar e desfrutar da forma como emergiram no argumento dois enredos, um baseado na peça de teatro, e outro numa viagem original – exterior e interior -, da personagem principal ao longo do filme. Poucos livros sobre processos criativos cinematográficos dão ao leitor tantas possibilidades.

Tratando-se de um filme passado durante a fase final da pouco conhecida Guerra Civil Angolana e nos primeiros anos de paz que se lhe seguiram, mas com ecos na Guerra da Independência, o livro partilha com o leitor informação sobre estas duas guerras consecutivas que duraram 40 anos, sobre a Angola actual, colonial e ancestral, e sobre a forma como a história, a cultura, os povos, as línguas e os ecossistemas deste país lindíssimo do sul da África foram incorporados no filme, numa narrativa visual e sonora, poética e deslumbrante.

Depois, o livro digital revela ao leitor como foi criada uma ficção com fortes raízes na realidade angolana. Descreve-se a importância das repérages realizadas, da longa fase de desenvolvimento associada a investigações detalhadas sobre todos os aspectos do filme, desde as máscaras africanas, à geomorfologia, flora e fauna, aos costumes e rituais dos povos indígenas do deserto, da música popular ao movimento hip-hop, da estrutura matriarcal da sociedade angolana à intervenção das mulheres na Guerra Civil. As vozes das personagens foram todas criadas por angolanos – actores profissionais e amadores, poetas e músicos -, gravados em Luanda. O leitor pode ver entrevistas com as três actrizes que criaram as vozes das três protagonistas do filme através de hiperligações disponíveis no livro digital. As músicas que compõem a banda sonora do filme são interpretadas por seis excelentes músicos e compositores angolanos. O argumento incorpora memórias, poemas e canções dos actores angolanos.

O livro digital é profusamente ilustrado e, muitas hiperligações, permitem ao leitor consultar desde os primeiros estudos gráficos das personagens e dos ambientes, até à sua versão final, testes de cor, testes de animação, o storyboard e o animatic. Partilha-se com o leitor as razões que levaram à escolha das técnicas de animação usadas no filme: o enredo no Passado em 2D e em imagens de arquivo; o enredo no Presente do filme em 3D; as sequências oníricas em pintura animada.

Finalmente, produtor e co-produtores revelam os processos de trabalho desta co-produção internacional que envolveu cinco países, Portugal, Bélgica, França, Países Baixos e Angola, e mais de 100 colaboradores.

Cremos que o livro digital será muito interessante para estudantes e profissionais de cinema, especialmente do cinema de animação, fãs do cinema de animação e os espectadores em geral.

Estas são as histórias, as pessoas e os lugares que nos inspiraram, esperamos que vos inspirem também.

Virgílio Almeida (argumentista)
José Miguel Ribeiro (realizador)

Crítica: Nayola – Uma jornada pelo processo criativo na radix (em espanhol)